domingo, 26 de junho de 2011

Para o homem da minha vida.

Acho que já fiz muitas cartas para você. Algumas delas até perdem o sentido, mas passam-se os anos e eu continuo tentando me entender contigo, mesmo que em cartas imaginárias. Eu desconfio que cheguei até você porque precisava, porque nessa vida alguém iria fazer você aprender coisas novas e descobrir sentimentos, assim como eu aprendi com você. Não sei como foi sua reação quando soube que eu viria à esse mundo, nessa época eu ainda estava bem aquecida no útero da minha mãe. Mas eu sei que vim bem na sua juventude, que vim quando você nem sabia o que fazer de faculdade, que os seus planos todos mudaram depois que cheguei. Você era tão jovem, às vezes me imagino tendo um filho com a sua idade e acho tão complicado. Deve ter sido no mínimo diferente não é? A minha mãe também era muito nova, ou seja, cai no colo de uma mãe e um pai que não planejavam nada disso. A verdade é essa, a verdade é que eu nunca fui um filho planejado, como aqueles em que os casais ficam esperançosos sobre a chegada dele. 
Você aprendeu a me amar, você colocou em prática todo o seu dom de doar amor e ser pai. Não precisa me dizer nem tentar fugir, eu sei que foi assim, porque isso acontece quando os filhos aparecem "sem querer" na vida de seus pais. Quando um filho é "preparado" o amor também é preparado sabe? Não estou querendo dizer que é impossível haver um amor sublime nesse nosso caso, não é nada disso. É só que eu entendo que foi difícil para vocês me receberem sem aviso prévio de sentimento, mas que depois souberam lidar com a situação como todos os pais. Sim, porque por mais que eu tenha dito essa teoria, eu acredito que pais destilam amor pelo seus filhos de forma natural. 
E então eu chego na sua vida, venho com tudo. Com choro, com birra, com chatice, com amor, com notas baixas e com preocupação. Eu vim sem medidas, vim sem limites algum, diferente de vocês. Então entra a parte de quando começo a me entender por gente e reconheço que você sempre foi a pessoa na qual eu já tive mais fé e confiança. Eu não vim no mundo com restrições de isso ou aquilo, eu fui um bebê, depois uma menina e agora uma mulher que ama seus pais sem medida, afinal é o mínimo que poderia sentir por quem sempre esteve por mim. 
Você consegue entender a diferença agora? Eu sempre olhei para você com olhar de amor, sempre senti sua falta com muita força. Aos poucos eu ia me apegando no homem que aprendeu a destilar amor. Me apeguei como se você fosse meu herói, e na verdade era mesmo. Passei 17 anos ao seu lado, cresci com você, aprendi com você e com certeza te ensinei algumas lições. Não há como dividir meu amor entre você e minha mãe, porque é como se fosse o infinito. Mas por ironia do destino eu vim apegada justo à você. Era em você que eu pensava quando tinha uma ideia nova, quando tinha um medo diferente. Eu contava as horas para poder ir até a casa da vó e assistir desenho com você. Eu queria morrer quando minha mãe não deixava eu dormir lá, porque a melhor parte era quando a gente colocava todos os colchões na sala e ficava assistindo TV. Eu adormecia e você me carregava para a cama, então se eu acordava no meio da noite, com certeza você estaria ao meu lado e contaria alguma história para eu pegar no sono novamente. Eu adorava brincar de cocégas com você. Me sentia uma princesa quando me carregava em seus ombros. Sentia admiração pelo pai que ia em todos os shows infatis e me segurava no colo. Admiração pelo pai que me ensinou a dirigir, a entender um pouco os homems e por aí vai. Mas você sempre foi tão novo, sempre parecia ser o meu irmão mais velho. 
Durante os 17 anos foi tranquilo, era eu te amando sem medidas e você sempre me apoiando. Só que eu amadureci, eu comecei a compreender as relações de maneira mais completa. Minha opinião começou a se firmar, pior que isso, comecei a querer impo-lá, claro, como todo adulto. E você parece não ter acompanhado isso, tenho a impressão de que você só soube lidar comigo na infância e na pré-adolescência. Eu estou virando mulher sim, mas eu ainda preciso de um telefonema seu dizendo que a gente pode ir comer um lanche. Eu ainda preciso saber dos seus planos, uma vez a cada dois anos fazer uma viagem com você. Preciso de você cobrando ao menos meu interesse na faculdade. Preciso de você sentido saudade ou tentando demonstrá-la. Preciso da sua visita no meu novo apartamento. Preciso da sua opinião sobre meu namorado. Sabe, coisas normais de um pai e de uma filha. Eu entendo que desde sempre nós lidamos com nossa relação de forma diferente, você tão novo e eu acompanhando seu amadurecimento. Às vezes eu tenho a impressão de que você me esquece, não de que não me ame ou algo do tipo, mas que você esteja tão engajado na sua vida nova que sem querer me deixou de lado. Sei lá, me desculpa, mas isso eu entenderia se fosse com algum amigo meu, mas não acho que deve ser assim entre um pai e uma filha. Pai e filho são ligados para sempre. 
Acho que só depois de muitos anos, agora que você é um homem maduro, criando uma nova família, com a hora certa de ter um filho, agora sim você está tendo consciência de como os sentimentos andam. Mas e eu? E eu que vim adiantada, como fico nessa história? Eu só te amo, só isso e nada mais. Não quero nada em troca. Não quero um carro, não quero uma bolsa, nem nada! Eu só quero que você também me ame de forma tranquila, porque parece que eu preciso sempre que buscar seu amor. Preciso te lembrar que existo, que sinto saudade, que quero carinho e coisas do tipo. De vez em quando eu vejo pais com suas filhas e sinto uma saudade de nós sabe? Nós somos bons, papai, nós somos ótimos. Mas você deixou o tempo passar em cima disso, você achou que eu já fosse independente o suficiente para não precisar de você. Um filho pode crescer, ter saúde, ganhar bem e formar uma família bonito, mas até o fim da vida eles precisão dessa base que se chama pai e mãe. Eu fico triste porque algumas vezes ficamos sem nos falar por mais de um mês. Você, por falta de interesse ou até mesmo medo de vir atrás de mim, como se eu fosse uma amiga... mas eu só sou a sua filha que mora longe e faz faculdade. E eu, confesso, por cansaço, por ter acostumado com isso. Mas ei, dói! Eu nunca esqueço de você, da nossa união, do amor e da saudade que sinto por você. A todo momento eu penso "se meu pai estivesse aqui", falo de você pra todo mundo. Sei lá, eu realmente sou sua fã! Eu não quero ter essa relação com o meu pai, com o meu pai que sempre foi meu herói, que sempre foi a primeira pessoa que vinha em meu pensamento quando precisei de proteção e segurança. Eu não sei o que você tem, se você me ama como eu te amo, não sei. Mas saiba, papai, que você é o homem mais importante da minha vida. Que não tem um dia que eu fique sem sentir saudade de nós dois e que espero poder ser sua cúmplice de novo. Eu te amo mais do que a mim mesma, te amo sem medidas, sem restrições. Não tem validade. Você pode vir a mim sempre, vai ser como se nós tivéssemos saído para andar de bicicleta no dia anterior. Espero ansiosa pela sua volta, com muito amor e carinho. Te amo pra sempre.

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